As Sete Mulheres de minha vida!
Sou futuro… o amanhã se faz em mim.
Amei e amo a vida, a que vivi antes e a que vivo neste instante em que faço essa homenagem.
Nasci numa família grande, entre onze filhos, sete eram mulheres. Órfã de mãe aos cinco anos e do pai aos seis, fui criada pelas irmãs, cujas idades a mais nova distava dez anos. Todas sabiam ler, escrever, costurar, bordar, dons ensinados e herdados da mãe. Para sobreviver começaram a trabalhar ora dando aulas, ora trabalhando no comércio e as mais prendadas começaram a costurar de ganho e uma outra, exímia bordadeira, preparava o enxoval das filhas das família ricas da pequena cidade. Migraram para cidade grande quando ela tinha dose anos. Não tendo os dons das irmãs, comecei a trabalhar cedo. Aprendeu datilografia e como aprendiz, aos treze tinha carteira de trabalho assinada a recebendo meio salário mínimo.
Dando um salto na história, agora octogenária, homenageio as sete Mulheres nesse momento de minha vida a ser divulgada na importante coletânea da A.C.I.MA. – Edizioni Mandala – Coordinamento Editoriale Sonia Miqueli que, no volume 1 – MUSAS Mulheres Memoráveis afirma que, Metade do mundo são mulheres, e a outra metade são os filhos dela…No dia 8 de março se comemora, mundialmente, o Dia Internacional da Mulher(…)Elas sempre deveriam ser celebradas pela coragem, talento e amor com que se dedicam a representarem o seu papel na vida de tantas pessoas, contribuindo, num todo, para a evolução da humanidade com sensibilidade afinada”, para justificar a organização e publicação desse tributo ao feminismo que existe em cada uma de nós, seres humanos.
Da relação matrimonial de meio século germinou duas filhas. A primeira, hoje especialista em medicina de família, nasceu na primavera de 1965, ano de muitas transformações políticas e problemas na vida. Estava abrigada na casa de parentes. A cidade sofrera uma grande enchente, muitas famílias ficaram desabrigadas e a minha também. Foi um período muito difícil; contudo, nesse momento “… No temor ao tempo e o terror diante das circunstâncias, brota uma flor, que faz nascer um sentimento de esperança. Tudo assusta, o ruído dos sons metálicos…avisando que estão chegando. As batidas nas portas e a revista em tudo…livros, papeis, objetos tudo destruído numa sanha de vingança.”. Vivia-se o começo de um clima de terror, o início de um período de escuridão que durou vinte e um anos.
Após quatro anos, nasce a segunda filha, 1969, em pleno verão de 1969, momentos em que as coisas estavam melhor em termos de vida privada, mas o mesmo não se pode dizer das condições histórica-política do país. Em dezembro-68, é aprovada uma emenda constitucional cassando todos os direitos políticos e instalando-se um período de terror pleno que perdura até 1985, com uma anistia negociada pelas forças política. Entretanto, nesse ano iniciei uma caminhada em busca do saber. Tanto assim que para ela dediquei as seguintes palavras afirmando que ela fora o despertar de vida e de amor, geração segunda, sem tristeza e sem dor. Tu foste o despertar de um mundo desconhecido, de caminhos nunca dantes percorridos. Tu foste a claridade sobre o meu olhar vedado; foste a descoberta de horizonte mascarado. Nasceste rompendo muralha secular edificado por gerações…, início de uma jornada de estudos cuja caminhada me levou a se considerar uma Operária das Letras e uma Artesã das Palavras cuja escrita semeia mundo afora tecendo teias de sentimentos de humanidade.
A primeira filha meu deu quatro netos, três mulheres. A mais velha recebeu o nome da bisavó materna, Anastácia. É uma mulher fantástica, deslumbrante para quem escrevi as seguintes palavras em resposta a um belo poema a mim dedicado: Ah, querida neta…representas a grande dama que foi Dona Dina – minha mãe, cujo nome herdas -, inquieta, assustada, irrelevantes e, sobretudo, sonhadora, lutadora, guerreira, embora em tempos diferentes, mas carregando os mesmos sonos. Ela, como árvore fincada num torrão de terra em que nasceu, brotou filhos e filhas (sete), sonhando com o mundo e pensando criar asas como Ícaro para alcançar a liberdade e caminhar pelo universo como nuvem errante! (…)Tu, terceira geração, ganhaste o mundo, desenraizando-se e, ao mesmo tempo, presa pelos laços do passado, da história que carregas…!
A segunda neta, nos seus dezoito anos escrevemos (eu e vô) as seguintes palavras: Flor que desabrocha com esperança e alegria, para no caminhar da vida, realizar sua humanidade. Da Bíblia, Eclesiástico 6-7 buscamos essa homenagem, sobre o aprendizado da sabedoria. O longo e ardoroso caminho a ser percorrido com luta e alegria. Empenhe-se na disciplina desde a juventude, e até na velhice terá sabedoria. Aproxima-se dela como quem ara e semeia. E espere pelos seus frutos saborosos…Esta neta me deu dois bisnetos a que prestei o afeto dizendo que: No aconchego do colo, a mamãe acalenta o futuro da humanidade, legando esses filhos, frutos do amor (…) Frutos que vão semear ternura, afeto, todos os sentimentos que fará dessa Terra o Paraíso dos seres humanos que vão essa espécie eternizar, formada de uma única família, a HUMANA!
A terceira neta, para quem escrevemos nos seus treze anos as seguintes palavra: Botão de rosa que começa a desabrochar! Sorriso de criança e muita meiguice no olhar! Beleza tropical, bem nordestina e brasileira e meiga como a flor de laranjeira…”. Trilhou caminhos para além das fronteiras e que tua ausência gera saudade…, nessa distância, em plena pandemia gerastes e nos presenteaste uma querida bisneta. Escrevi para ti escrevi as seguintes palavras, Que essa semente gerada no teu ventre, fruto do amor e de eternidade da vida seja o ser humano que fará do mundo, um Mundo Humano, Feliz! Assim, afirmo que, …hoje. é como ontem, o grande momento em que te acolhemos em nossos braços essa querida bisneta!
Agora, minha homenagem a netinha caçula que nasceu às vésperas da Primavera, a quem ofertei as seguintes palavras: … agosto já traz o gosto da primavera que se aproxima. Mas agora o Rei Sol teima em aparecer, retirando os seus cobertores pesados de água que encobrem sua luz e seu calor, aquecendo o coração dos homens trazendo alegria para o mundo! Salve agosto que nos traga a luz para iluminar a mente e clarear o pensamento…Então, mês de agosto com muito gosto aguardamos a chegada das flores, dos ventos leves… e da linda flor que brotou para trazer alegria.
Sendo o futuro, gostaria de falar das Mulheres do meu passado, das minhas raízes, afinal, na minha extensa família venho de uma grande árvore: Mulher, Deusa, Musa Memorável vejamos porquê: nasceu num tempo, mas era fora do seu tempo, era extemporânea. Mulher era para servir ao senhor seu dono, proprietário. Como todas as mulheres, não sabia ler nem escrever…, mas sabia perfeitamente o que queria, que todas as filhas tivesse oportunidade para estudar e ser. E conseguiu!
Homenagear essa Mulher mais de que deusa, musa, guerreira era feminista, mesmo que essa denominação seja do tempo presente. Fui alertada por ti muito tempo antes…, tinha apenas um pouco mais de quatro anos, no teu leito de morte. Agora, sentada diante da tela do meu computador procuro as palavras para te prestar a minha homenagem. És a primeira das setes mulheres, musas, deusas e guerreiras memoráveis que carrego dentro de mim e que tenho a oportunidade, nesse momento, de conviver com sete mulheres que me cercam.
Há tempo quando te escrevi a um certo tempo, estavas como hoje, ao meu lado, na foto tua esmaecida pelo tempo. O olhar é profundo e distante, atravessa o universo e retorna a mim com muita ternura. Diferentemente de ti que partiste jovem, muito jovem. Nunca tive sonhos, apenas perspectivas, por isso caminhava, lutando com as adversidades. Avisaste que não seria fácil. Agora me pergunto, como cheguei até aqui? Como? Sei que tens a resposta. O caminho foi longo, difícil e árduo que percorri para chegar aqui e compreender que tudo tem uma razão de ser. Lembrava de ti deitada naquela cama imensa. Havia sempre um sorriso nos teus lábios e um brilho em teus olhos que nos atravessava, alcançando nossa alma. Todas as tardes, nós, os teus filhos, ficávamos ao redor da cama para contar as peripécias do dia. A minha história era a última. Chamava-me para ti, abraçavas-me, alisavas os meus poucos cabelos e dizias, cuida-te, terás uma grande caminhada, mas sempre estarei por perto. Não compreendia o que dizias. Olhava-te Mãe, teus longos cabelos vermelhos e cacheados, os olhos, duas esmeraldas que brilhavam e sorriam… Como te amava! Durante todo esse tempo, carreguei a dor de tua partida. Agora, como octogenária, uma coisa me perturba e não sei com tratar: quando nos encontrarmos, terei a imagem de mãe e tu de filha. Como será que lidaremos com isso? Não importa. O que importa mesmo é estarmos juntas. Te falarei das coisas, dos livros que li e escrevi. O primeiro dedicado a ti, na epígrafe, À minha mãe, que morreu aos 38 anos, rodeada pelos filhos, despedindo-se de cada um com carinho e dignidade, nos deixando como legado o espírito de coragem para lutar pela vida e pela liberdade, sem jamais deixar de acreditar na humanidade. Sabias que escolhi ser professora? Quando me aposentei, pensei, Mãe, agora posso realizar meu projeto: escrever e publicar. Quando iniciei essa caminhada tinha setenta anos. Nesse instante em que te homenageio passo dos oitenta, mas lembro o que me dissestes: “Presta atenção filha, tua vida vai ser longa e terás muitos desencantos, mas chegará o momento que desabrocharás e a escrita será tua realização e ela caminhará pelo mundo”.
Diante da oportunidade que a A.C.I.MA ofereceu, presto minha homenagear, Mãe, a todas essas Mulheres, Deusas, Musas Memoráveis, que gerastes; das sete, só restam duas, eu e minha irmã. O importante a dizer-te é que, todas geraram frutos maravilhosos cujas sementes, como minha escrita, se espalham mundo afora, como esta que será publicada na Itália, terra de grandes feitos, ajudando a construir um tempo de paz, solidariedade, conhecimento, enfim, uma sociedade verdadeiramente humana.