Inúteis e indefinidos são
as linhas riscadas no
branco do papel…
Difusas são as interpretações
que delas emergem.
Preciso apenas da intuição,
bússola para guiar-me nos
labirintos da alma…
O que sinto e percebo,
basta-me!
São inúteis e fúteis as traduções,
interpretações do visível que há em mim.
O que resta…, nada significam.
Quando interessa ou quando me apetece,
apenas penso! Sinto ser diferente…,
será…?
Quem sou?
Não sei, apenas sinto…
Sou o que não é,
o que nada sei…apenas
traços de outros que
em mim se fixaram.
Partículas indefinidas
que se juntam na busca
da construção de um ser…
De mim, extraio apenas
aquilo que me interessa,
que consigo apanhar…,
rasgos de inconsciência que,
filtradas pela censura do eu,
ignoro…
Na indefinição do que sou,
naquilo que não sou,
tento construir-me!
Percebo que fantasmas de mim
delineiam meu perfil,
tão indefinido , tão ficcional
dos quais não me liberto…
nem me construo !
Na folha em branco tento
traçar linhas que expressem
algo de mim…inútil…
as linhas que o lápis desenha
são incompletas e indecifráveis…
Há outros traços que,
ultrapassando a barreira
de mim mesma,
não consigo desenhar…
Há, ainda, as invisíveis linhas
que se escondem na máscara
que se vê…
Tento encontrar-me.
Reconhecer o que vejo.
Só enxergo o indefinido.
Então, encontro-me, sou, estou viva!
Será?
De uma coisa tenho certeza,
poucos são os traços visíveis
que dizem de mim…
Sou apenas uma ficção,
num desenho de auto retrato.
Um caleidoscópio com inúmeras
imagens variando…variando…,
mudando, se transformando.
Conhecer-me… qual quê!?
Não sou nada,
Nada sei…
Sou um complexo num amplexo,
desconexo com o universo e
diversa de mim mesma…
enigma a ser desvelado!
Decifra-me…!