À Cecília Meireles,
Estimada poeta,
“Entre o desenho do meu rosto e o seu reflexo,
meu sonho agoniza, perplexo”.
É com esse sentimento, diante de tanta tristeza, que expresso a falta que nos faz a tua profunda e serena escrita. Aproveito para dizer que estamos nesse mundo vivendo um momento de tempo partido, de seres humanos assustados e perdidos, período em que as pessoas têm que se proteger de um inimigo invisível, num recolhimento necessário, dado o caos que se espalhou mundo afora. Portanto, diante deste sentimento de dor e angústia é preciso buscar sabedoria frente a esse a imensa crise. Essa minha homenagem é, portando, uma contribuição para realização dessa Coletânea que tem como finalidade homenagear teus cem anos de nascimento é, realmente, de muita importância.
Assim, reunir numa obra a escrita de pessoas que usam como instrumento de resgate de humanidade palavras de ternura; além do que, têm participação expressiva em termos culturais para entender as coisas, e encontrar uma explicação diante da realidade que nos cerca. Nessa situação emerge a necessidade de que seja construída uma relação de sentimento de solidariedade e ternura que se apoderem do coração e da alma de todos que se encontram participando dessa obra; isso porque o mistério do destino humano é ser fatal, mas nessa fatalidade se tem a liberdade de cumprir ou não o que reserva o destino e a forma de vida; contudo a compreensão dessa realidade depende de cada um para que possa realizar ou não esse destino. Produzir essa Coletânea para expressar a beleza de tua escrita, é a oportunidade de divulgar pessoas, escritores, pensadores que possam dar uma grande contribuição para que os habitantes do planeta Terra, para que compreendam o que ocorre na realidade, após a longa caminhada histórica que fez o homem para construir esse mundo em que habita. Esse ser, o homem, gerado Natureza com a participação do trabalho, é o único ser que sabe, e que sabe que sabe; nessa caminhada para se comunicar e expressar seus sentimentos e vontades desenvolve a linguagem; e para tornar o mundo mais humano, desenvolve a cultura e a arte. Entre estas a escrita, mais específica, a poesia que expressa a humanização desse ser, o homem, no processo de humanização.
Importante observar que se vivia, até pouco tempo, num mundo que parecia ter respostas para todas as questões e tudo estava aí para ser realizado, mas, qual o quê; na realidade, é a mesma sociedade em que, tendo atingido um alto grau de desenvolvimento, a cada dia, o homem vem perdendo a alma e se desconstituindo como humano, negando sua própria humanidade. Vivendo nessa realidade para compreender essa situação, é necessário buscar nos livros aqueles que ajudam a entender a angústia e o sofrimento que tomam conta de todos. Assim, na obra literária que nos deixasse como legado, Cecília, está expressa a importância de se produzir a presente coletânea divulgando a escrita para que se faça uma reflexão da sociedade para ajudar na capacidade de atuação sobre a realidade no resgate do sentimento de humanidade. O mais importante disso tudo é saber que escritores de diversas regiões prestam essa grande contribuição para ajudar essa sociedade a sobreviver humanamente.
No atual momento, o inimigo com que a sociedade embate é invisível a olho nu, mas a ciência, com todo seu avanço, conseguiu identificar e vem desenvolvendo mecanismo de luta para combater, através de estudos e pesquisa e resgatar ao nível do razoável. Em meio a essa circunstância, cada episódio gera grandes transformações nas relações sociais. Portanto, a coisa que gerou esse quadro de miséria, nos faz procurar entender e tentar encontrar uma saída. Nesse momento de miséria é preciso construir uma outra vida, uma outra forma de viver. Na forma de organização atual, no caminhar em busca da solução é essencial que trabalhos, pesquisas e coletâneas literárias possam fazer essa reflexão, porque podem dar uma contribuição pelo registro que deixa para a próximas gerações. Se constata a ausência de proposta de resgate da caminhada humana ao seu destino (humanizar-se cada vez mais), a necessidade de conhecimento da própria realidade e, o mais importante, é que se espera com essas escritas elementos que contenham indicação que possam apontar para uma perspectiva de superação dessa realidade; mas, mesmo após esse tempo partido em que se vive, não há previsão de mudança e mais, há o temor de não saber o que fazer quando as pessoas voltarem às atividades normais. É possível que com a publicação e divulgação desse projeto onde pessoas que além de serem escritores podem, em suas escritas, oferecer uma grande contribuição para a solução das questões.
Daí a necessidade de pesquisa e estudos que apontem elementos capazes de refletir e contribuir para resgate do sentimento de humanidade e a encontrar um caminho por onde os seres humanos unidos possam construir um mundo de recuperação de sua humanidade. Neste tempo partido em que o homem se encontra em uma encruzilhada, só tem duas saídas: ou dá um passo à frente para realizar-se como humano, ou retorna à barbárie; ou mesmo ao seu extermínio enquanto espécie. É preciso que compreenda que ele, o homem, é o produto considerado mais aperfeiçoado da natureza. E mais, é preciso, para sua sobrevivência, que se (re)estabeleça a relação entre o humano e a humanidade, especificamente entre o indivíduo e uma organização social humanamente construída. Nas sociedades até aqui construídas o homem que, partindo da Natureza foi criando o mundo em que vive e que, no estágio em que se encontra a sociedade, com o desenvolvimento das relações que se tornaram mercantis, a arte, literatura atende aos interesses do capital na medida em que tudo virou mercadoria, até o ser humano, o homem.
A escrita que nos foi legada, Cecília, nos faz ter a certeza de que vivemos outras vidas, a de nossos antepassados, mas cada geração recebe da anterior um legado de todos os que vieram antes, o qual carregamos dentro de nós mesmos. Legado este, herança de sentimento, de bens que podem ser ampliados, negados ou simplesmente reproduzidos. Cada um, na sua caminhada e na sua finitude, escolhe o que fazer. O tempo passa, a vida passa, todos os dias e todas as horas. Como a natureza, a vida está em movimento: os dias alternando com as noites, as estações mudando a cor do céu, o cheiro das plantas, tu, criança hoje, precisas, no tempo de tua vida terminável e finita, aprender a querer o bem. Ser uma pessoa humana, a melhor versão de si mesmo todos os dias. É, como afirma no epigrama número três, “ […] Recompuseram-se tempos, formas, cores, vidas… Ah! mundo vegetal, nós humanos, choramos só da incerteza da ressureição.”. O mundo precisa ser o melhor lugar para se viver; e de pessoas que saibam sorrir, respeitar a dor do outro; ter afeto, carinho e, sobretudo, capacidade de fazer da vida um eterno aprendizado e as pessoas escolhidas para essa Coletânea que resgata a poesia que deixaste repleta de humanidade são o exemplo.
Não resta dúvida poeta, a esperança e o sentimento de humanidade são o melhor que temos para legar, precisamos aprender a desenvolver ações humanas no tempo que nós próprios construímos no aqui e agora e, na caminhada que a vida conduz todos as pessoas, especificamente as escolhidas sejam capazes de responder e, cada vez mais, aperfeiçoar a si própria, consequentemente toda humanidade, para tanto, a cultura, a arte, a literatura notadamente a poesia e a escrita que nos legaste é de grande força de resgate de sentimentos humanos.
De maneira que, todos que participam dessa importante coletânea em homenagem a essa grande poeta, agradecimento pela oportunidade de expressar o compromisso que todos têm perante a humanidade. E que os escritos de Cecilia, resultado dos legados que vieram antes dela, que nos permitem mergulhar nesse tempo partido para sobreviver por todos aqueles que não conseguiram viver; compreendendo um pouco mais viver nessa sociedade.
Esta é minha homenagem saudosa das poesias que, com tanto sentimento de humanidade expressa em tua vasta obra, e os que vão participar dessa coletânea possam ser capazes de identificar um caminho literário para resgatar os sentimentos de humanidade que foram gerados ao longo do processo histórico e ajudar a construir, sobre os escombros dessa sociedade que sucumbe diante da apocalipse, nessa organização social que se esfacela diante de tanta miséria e dor, uma sociedade verdadeiramente humana.
Desculpa por tão longa escrita. Espero ter expresso todo o meu sentimento de dor nessa longa noite que vivemos. Concluo, citando o epigrama número nove:
O vento voa,
a noite toda se atordoa,
a folha cai.
Encantada com as questões que colocas para entender a vida, perguntas:
Haverá mesmo algum pensamento
sobre essa noite ?
sobre esse vento?
sobre essa folha que se vai?
Não sei responder poeta, tento apenas sobreviver nesse mundo desalmando por aqueles que não conseguiram viver, apenas posso te dizer com palavras minhas em forma de poema que:
(…)
Tudo se recolhe…
Há medo no silêncio…
Apenas o som do vento
parece tanger para longe
o desespero que começa a
tomar conta da alma dos homens
perdidos nesse tempo de dor!
E ainda, faço com clamor um pedido:
(…)
Oh Deuses!!!
Venham ajudar este planeta
– Terra –, morada dos homens,
onde alguns dos seus habitantes
assistem aterrorizados a destruição
da vida e ao comprometimento
de sua própria espécie,
enquanto outros se apoderam
da riqueza social produzida
e, ainda, destroem a Natureza,
sua Mãe primeira!!!
Que o Universo se apiede de nós!!!