Capítulo 9
POSSIBILIDADE DE HUMANIZAÇÃO NUM MUNDO GLOBALIZADO
Crise da sociedade capitalista e sua dimensão social
A contradição entre o proletariado, aquele que gera a riqueza e aqueles que dela se apropriam, os proprietários privados, é uma etapa no processo de desenvolvimento da humanidade. A sociedade capitalista é considerada a pré-história da humanidade do homem. É um tipo especial de formação social onde é gerada imensa riqueza material e espiritual, que é apropriada privadamente gerando, com isso, a destituição de qualquer condição pela maioria dos seres, que terá de lutar para resgatar o seu direito de continuar construindo a sua humanidade e de sobreviver enquanto humano.
Mas, acerca dessa questão, de acordo com Marx:
As relações de produção burguesas são a última forma
contraditória do processo de produção social,
contraditória não no sentido de uma contradição
individual, mas de uma contradição que nasce das
condições de existência social dos indivíduos. No
entanto, as forças produtivas que se desenvolvem
no seio da sociedade burguesa criam, ao mesmo
tempo, as condições materiais para resolver esta
contradição. (MARX, 1977, p.25).
Na verdade, “com esta organização social termina, assim, a Pré-História da sociedade humana”. (MARX, 1977, p.25). E a partir deste momento histórico são dadas as condições para a verdadeira sociedade humana. A superação da ordem burguesa, da organização do capital, tem como fundamentos a diminuição constante do número de personas do capital e a garantia do fenômeno da descentralização do poder, que deverá ser social, ou seja, dos trabalhadores livremente associados para a formação de uma sociedade humanizada. É preciso, fundamentalmente, ressaltar que:
As condições econômicas, inicialmente, transformaram
a massa do país em trabalhadores. A dominação
do capital criou para esta massa uma situação
comum, interesses comuns. Esta massa, pois, é já,
face ao capital, uma classe, mais ainda não o é para
si mesma. […] esta massa se reúne, se constitui em
classe para si mesma. Os interesses que defende se
tornam interesses de classe. Mas a luta entre classes
é uma luta política. (MARX, 1985, p.159).
Nos dias atuais, o capital tem sua centralidade no capital financeiro; um profundo e amplo desenvolvimento da técnica, isto é, o avanço inimaginável da tecnologia; aumento da extensão da miséria, da opressão, da servidão, da degeneração, da exploração e também revolta da classe trabalhadora, sempre numerosa e organizada pelo mecanismo do processo de produção capitalista. Dessa maneira, o processo de centralização dos meios de produção, bem como a socialização do trabalho, se tornam incompatíveis com o modo capitalista de produção. Daí a possibilidade de sua superação e a perspectiva inevitável da construção de uma sociedade verdadeiramente humana, ou então, volta à barbárie.
De acordo com a concepção marxiana, a construção de uma nova sociedade é gestada no seio da velha sociedade; entretanto, neste momento histórico, a luta pela sua realização passa, necessariamente, pela consciência desse processo, pois:
A consciência jamais pode ser outra coisa do que o
ser consciente, e o ser dos homens é o seu processo
de vida real. E se, em toda a ideologia, os homens
e suas relações aparecem invertidos como numa câmara
escura, tal fenômeno decorre de seu processo
histórico de vida. […] os homens, ao desenvolverem
sua produção material e seu intercâmbio material,
transformam também, com esta sua realidade, seu
pensar e os produtos de seu pensar. Não é a consciência
que determina a vida, mas a vida que determina
a consciência. (MARX & ENGELS, 1987,
p.37).
Por isso, a classe dos trabalhadores pode, pelo desenvolvimento da consciência, e pela ação de exigir mudanças no uso do conhecimento, ser um instrumento de realização da verdadeira sociedade humana. Aliada a esse projeto está a concepção de que é preciso compreender a espécie humana como gênero, como um todo único na sua profunda diversidade enquanto particularidade e singularidade, mas que forma um todo universal.