Matéria com citação do livro Tempo partido 2020
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Recebo neste Natal de 2020 uma linda mensagem de áudio da minha amiga Elzi Reis. E também lhe envio outro áudio, ao que ela me responde. E as três gravações são longas. Desculpamo-nos mutuamente pelos tamanhos dos arquivos, mas fazemos isso sabendo que as mensagens são necessárias e fraternas.
Minha amiga diz que o Natal a inspirou a conversar comigo, mostrando-lhe a importância de guardarmos o que nos é sempre caro. No nosso caso, a amizade, esta flor que não murcha e que levamos para a ultravida.
Digo-lhe do meu prazer em ouvir o seu áudio, e reafirmo sua garra e dedicação quando ela foi minha professora de 1988 a 1991. Pontual e assídua, ela chegava à escola e dava suas aulas de História com competência e seriedade.
Nas idas e vindas de nossas vozes, falamos de tantas coisas mais. Dos desânimos. Dos declínios. Do tempo que passa. Das forças indo-se embora aos poucos. Do desejo de que todos os que estão vindo compreendam que nós vamos passando. Da existência de culturas diversas e do fundamental respeito entre elas. Dos trabalhos sociais em prol de todas as vidas, humanas ou não. Da literatura. Das antologias de que venho participando. Dos nossos desejos de que a humanidade seja sempre guiada por Deus.
Falamos sobre a sensibilidade como algo que nos salva. Vivemos para nós mesmos, mas antes de tudo para os outros. Se buscamos compreender a vida, compreensão impossível, começamos a ver o nada. Então nos salva dar sentido para a existência. Daí fazermos tudo para atingir essa meta.
Ponderamos sobre a finitude. Sim, somos finitos. Mas existe o infinito que nos alimenta. E no infinito temos fé. Nessa esperança do que não se vê (eis a definição paulina da fé), vamos seguindo nossas vidas adiante.
Nossa conversa passeia pela difícil senda das coisas estruturais da nossa sociedade, as coisas entaladas em nossas gargantas como espinho incômodo de peixe: as diferenças sociais, a pobreza, o racismo. E pensamos no frio e nas pessoas imersas nele sem proteção, na fome e nos estômagos vazios clamando por piedade. Mas nos acalentamos em referências a pequenas ações nossas e alheias que podem amainar as dores.
Envia-me, entre um áudio e o outro, a declamação de um poema do poeta Bráulio Bessa, feita pelo próprio autor, no qual se tecem reflexões sobre o exato sentido do Natal, sobre a necessária ação social que deve comboiar a oração. A partir do poeta cordelista, falamos do poder do sorriso e da alegria no meio da dor e da tristeza. E, num acordo de pensamento, reforçamos reciprocamente que pensar no mundo e no outro é contribuir para amenizar as agonias da existência. E fazendo tudo isso, estamos fazendo para nós mesmos, tanto neste plano quanto no que lhe é diverso. Cuidar duma planta é cuidar da beleza e do ar, é cuidar de nós que amamos a beleza, de nós que respiramos o ar. As sociedades precisam de consciência, de amor (caridade), de união, de respeito entre tudo e todos.
Quanto às antologias de que participei ao longo de 2020, digo-lhe em específico do livro Tempo partido 2020 – resgatando sentimentos de humanidade. Organizado pela escritora pernambucana Ivanilde Morais de Gusmão, esse tomo é uma antologia de que participo com muito amor. Eu lhe conto que já li todo o volume de 554 páginas e que gostei muito dele. Informo-lhe que a brochura enfeixa poemas, contos, crônicas, reflexões sobre a vida e a necessidade de a repensarmos. Enfim, textos com sentimentos humanos. O meu escrito, dentro do universo de 121 autores, é uma carta aberta para a humanidade, no desejo de que todos nos amemos, amemos o mundo e cuidemos dele.
Ao fim da conversa amena, entabulada a distância, solicito à minha amiga que ela continue caminhando, apesar dos pesares, pois assim está escrito no salmo 84, através do cântico dum peregrino alegre por encontrar-se nos átrios do templo de Jerusalém: “Bem-aventurados os que habitam em tua casa; / louvam-te perpetuamente. / […] / Vão indo de força em força; / cada um deles aparece diante de Deus em Sião.”. Lindo e respirável isso! De força em força se caminha. E com os olhos de Deus em nós, vamos vendo a beleza da vida. Continuemos no nosso apego a Deus, que só assim tudo é vida e luz em meio aos sentimentos do nada.