A fome que é saciada com garfo e faca é
diferente da que rasga a carne nos dentes!
Karl Marx¹
Um grande véu encobre o mundo!
O falso brilho das luzes encadeia e
turva a vista comprometendo o olhar.
Tudo fica nebuloso enquanto ruídos ensurdecedores
impedem o pensar e enxergar a realidade, então,
os indivíduos enebriados, cegos, manipulados
e amedrontados não sabem que direção tomar!
Mergulhado em profunda crise,
tropeça-se sobre as coisas que rolam no desgoverno
e na contra-mão. E com as coisas os homens.
E nesse tráfego bárbaro, os semáforos inverteram as luzes;
não contentes, mudaram as cores. Motoristas e pedestres
se atropelam, mas ninguém para. Não há como se deter
e todos se desesperam por chegar aos destinos.
Mas os rumos foram abolidos. Os coletivos trafegam
sem tabuletas, os comboios não param, nem partem.
As ruas perderam os nomes e todos esqueceram para onde iam.
Só resta a alternativa de continuar andando. Sem sentido.²
Enquanto isso, o capital – dono do mundo -,
Que se apropriou de toda a riqueza, destitui o
homem de sua humanidade, restando o animal homem…, e
nessa imensa barbárie a lógica do capital se amplia
e aumenta sua capacidade de destruição ad infinitum.
Nesse quadro a fome grassa o mundo…
Não quaisquer uma, mas todas formas de Fomes.
Fome no mais profundo significado, principalmente
De humanidade, na medida em que a riqueza produzida
Pelo trabalho é a apropriada privadamente dispondo do
poder da própria fonte da vida…deixando milhões em
completa miséria. Nesse mundo de imensa riqueza grande
parte da população é jogada na miséria, na fome…
Até quando?
Para compreender esse quadro e preciso verificar
quais os pressupostos da existência humana!
O primeiro é que todo o mundo humano, toda a sua
vida é feita de História e, na medida em que, partindo da
animalidade, da Natureza, mediado pelo trabalho, o homem
produziu o seu mundo de riqueza material e espiritual
que se expressa na Cultura.
Portanto, nesse processo histórico, os seres humanos devem
estar em condições de viver para poder “fazer história”.
Mas, para viver, é preciso antes de tudo comer, beber,
ter habitação, vestir-se e algumas coisas mais que humaniza.
Daí que, a primeira ação humana é a produção dos meios
que permitam a satisfação dessas necessidades;
isto é, a produção da própria vida material. E de fato esta é
uma condição fundamental de toda história, que ainda hoje,
como há milhares de anos, deve ser cumprido todos os dias
e todas as horas, simplesmente para os manter vivos.
A segunda ação ou elemento a ser considerado é que,
satisfeita esta primeira necessidade, a ação de satisfazê-la e
o instrumento de satisfação já adquirido, conduzem a
novas e mais amplas necessidades. Esta produção
de novas necessidades é o primeiro fato histórico.
A terceira condição, reprodução da espécie.
Esta ação, desde o início intervém no desenvolvimento
histórico porque os humanos diariamente renovam sua
própria vida, gerando novos seres e assim garantir sua espécie.
Nesse processo, a primeira relação de produção é entre
macho-fêmea (homem e mulher); entre pais e filhos,
gerando a família; que no início é a única relação social,
tornando-se depois uma reação secundária, quando as
necessidades ampliadas engendram novas relações sociais,
e o acréscimo de população produz novas necessidades.
O humano, ser social gerado nesse processo, cada vez mais,
se desenvolve ampliando seu mundo criando novas e
mais amplas e complexas necessidades.
Estes três aspectos da atividade social: atender necessidades,
criar instrumentos e a relação social, são simplesmente três
“momentos”, que coexistem desde os primórdios da história;
e desde os primeiros humanos e, ainda hoje, se fazem valer
na história. É nesse processo que emerge o capital.
Relação social de produção que revoluciona, porque cria pelo
e através do trabalho toda imensa riqueza – social, material cultural -,
mas que a partir de determinado momento- por exemplo, no atual -,
entra em crise porque a produção social é apropriada privadamente
e aquele que produz é desproduzido no ato da produção;
o produto do seu trabalho não lhe pertence, é por outro apropriado.
O trabalhador que produziu luxo e riqueza, palácios, castelos, é
jogado na miséria, no desalento, na fome… essa imensa população
vagueia abandonada e submetida a todas as formas de Fome!
Desde as condições mínimas de sobrevivência até de bens matérias,
sociais, espirituais; e mais, lhe é negada a própria humanidade.
O que acontece com o pobre, o miserável a quem é negado todo benefício
produzido socialmente? Fica destituído da morada humana; isto é,
do mundo de riqueza gerado socialmente!
Neste processo de desenvolvimento econômico e progresso
social, que é negado àqueles que produziram, surge um período
de revolução e as forças produtivas materiais da sociedade
entram em contradição com as relações existentes gerando,
então, uma profunda crise. Ao lado da riqueza social, uma
imensa população miserável e faminta de tudo….
Ocorre que, o que estamos hoje vivenciando é que de formas
de desenvolvimento das forças produtivas, estas relações
transformam-se em seu entrave e toda riqueza (material/espiritual)
é apropriada por pequena parcela da população as “personas” do
capital que fomentam a violência e a miséria pela guerra, abandono,
discriminação e fome; condições para as transformações.
Contudo, nenhuma organização social desaparece antes que se
desenvolvam todas as forças produtivas que ela é capaz de conter;
nunca relações de produção novas e superiores se lhe substituem antes
que as condições materiais de existência destas relações se produzam
no próprio seio da velha sociedade.
É por isso, então, que a humanidade só levanta os problemas que
é capaz de resolver e assim, numa observação atenta, descobrir-se-á
que o próprio problema só surgiu quando as condições materiais para
o resolver já existiam ou estavam, pelo menos, em vias de aparecer.
A questão que se coloca é:
Todas as condições materiais já estão dadas, por que a transformação
– Revolução – para a sociedade verdadeiramente humana não ocorre?
O que vemos é o contrário, paralela à imensa riqueza
socialmente produzida, gera-se uma miséria profunda,
violência, guerra, destruição e a FOME se espalha no mundo!
Fome de quê? Afirmamos, sobretudo Fome de Humanidade e
de tudo que a envolve para grande parcela da população
enquanto uma parcela ínfima alcançou o paraíso porque se
apropria privadamente da riqueza socialmente produzida e,
para o restante, retorno à “barbárie”!!
O que fazer?
A proposta possível: união de todos que geram a riqueza.
Para tanto, criar, implementar instrumentos de mediação
partindo da Cultura, da educação, do conhecimento
disponíveis para todos, eliminando quaisquer formas
desse imenso flagelo denominado FOME!
¹ Karl Marx – (1818-2019) – Nasceu na cidade de Trier, em 05 de maio de 1818 – Alemanha (antigo território da Prússia) – Filósofo/economista/historiador.
² CHASIN, J. (? – 1997) – MARX – da razão do mundo ao mundo sem razão – São Paulo – Cadernos Ensaio 1 – série grande formato – 1990.