PAI – a palavra que traz, em si, um oásis de proteção e afeto, como essência do instinto de sobrevivência das espécies, é transmutada num deserto de areias escaldantes na ótica do jornalista e escritor paranaense Rogério Pereira, autor de “Na escuridão, amanhã”, publicação da Cosac Naif (SP) em 2013, como uma carta aberta ao Pai, portanto, um misto dos gêneros “carta aberta” , que caracteriza a argumentação com base em assunto de interesse coletivo, e “carta pessoal”.

Com anuência do autor, a professora, advogada e escritora Ivanilde Morais de Gusmão faz uma releitura poética do texto original, talvez, no intento de aproximá-lo da semântica do título de sua publicação (Pai, palavra que carrego dentro de mim), apesar da ausência de qualquer fiapo de humanidade, que possa justificar os desígnios da vida (divinos, demoníacos ou do puro acaso), que fizeram deste Pai um detentor de tão nobre missão sem, no entanto, tornar-se merecedor.

Ao dar publicidade à fragmentação familiar, antes restrita a quatro paredes, como “ventríloquos mudos à porta do inferno”, os fatos ganham ares de uma purgação que transforma o pesado fardo em carga suportável, ao ser repartida entre os leitores que, de alguma forma, poderão se identificar com o inesperado que contraria princípios universais.

No entanto, ainda cabe uma reflexão: que contextos histórico, familiar e social teriam induzido o Pai a subverter essa ordem, que mantém preservadas a sobrevivência física, moral e psicológica de uma prole constituída, transformando-a num “ensaio mal sucedido de agrupamento”?

Apesar de ter a integridade despedaçada ainda nos primeiros anos de sua existência, o ser humano é capaz de se nutrir da própria seiva e de se reconstruir numa versão melhorada de seus antepassados, tornando proporcionais à agonia, à decepção e ao estranhamento, a fruição dos momentos de felicidade almejados por qualquer ser humano no desenvolvimento de sua humanidade.