Homenagem ao mestre Carrero!
Durante todo esse tempo procurou,
como um aprendiz de guerreiro manter
a tranquilidade e o rigor naquela habitação de insanos.
Mas há um momento em que a flecha se arrebenta do arco.
É como se fosse possível devolver vida à companheira.
A partir de agora, essa casa será um lar sem luz.
Caminha ereto para o quarto tão ereto quanto a ereta bengala
em cujo cabo havia um dragão alado.
Do interior de sua embriaguez, ele gritava:
– Se é necessário fingir, continuaremos todos a
fingir sob minha regência. Fingir é a nossa festa.
Nem mais nem menos:
Fingir sobre as ruínas como palhaços nos trapézios.
Enquanto isso, ela fará do fundo do rio o seu reino.
A filha voltou-se e disse:
– Seja como for, não o escutarei mais, não mais me
submeterei a sua insanidade. Partirei.
Quero apenas ouvir o meu silêncio porque na sua ternura,
creio mesmo que ela finamente será feliz no fundo do rio.
Respondeu: eu, de minha parte, farei de minha casa um lar.
Não importa sobre que força: continuarei o dono absoluto,
o senhor e o patrão. Nem você escapará, com seu ódio contido
e seu silêncio de dor igual ao dela durante o tempo que vivemos.
Tomou o rumo do quarto.
Sentiu tonteiras e ânsias de vômitos.
Conteve-se. Havia pouca luz no quarto.
Deitando-se na cama depois de retirar o paletó,
desabotoou o colarinho, o suor descia pelo peito.
Olhava o teto.
O sol entrando pelas frestas da janela o enfeitiçava.
Pensou em levantar-se.
Era correto permanecer trancado no quarto?
A família, composta de mulheres rezavam e se lamentavam.
As vozes chegavam até ele. Foi quando percebeu que tinha
o corpo molhado de suor. Sentia frio e calor.
As pálpebras cerradas. Um tremor de febre e um rancor
tomou conta do corpo. Num ímpeto, levantou-se:
Não serei aniquilado. Ela escolheu a morte.
Não deixarei que me arraste. Lembrou que ela
carregava consigo uma mágoa, uma dor que,
apesar de toda luta, foi vencida pelo desejo de partir
deixando todos condenados ao remorso.
Preciso encontrar uma saída…
Caminhou pelo quarto como um animal acuado.
Tomou uma decisão:
Abriu a mesa da cabeceira apanhou a arma.
Olhou-se no espelho, a fisionomia era de paz.
O estampido calou as vozes e
fez-se silêncio!