Só a poesia pode transformar
a dor do humano em esperança
num tempo de
destruição e de negação.
O amor, sentimento construindo
no processo de humanização
não encontra espaço no coração e
na alma amargurada e silenciosa.
O desafio para enfrentar esse
momento de tragédia, de violência e
desalmação gerada no confinamento
e na reclusão, esses meses de sofrimento
só encontra saída no conhecimento
da realidade que se desvelada,
lendo, relendo, escrevendo,
reescrevendo para traçar um
caminho que aponte a luz para
a busca da solução.
E, usando a palavra com ritmo e leveza
possa suportar a densidade do drama
vivido pelos personagens que, na sua
infinita dor, exclamam com desespero
o impiedoso sentimento de vazio e silêncio,
numa sociedade desalmada que
desconstitui no homem sua humanidade.
Só a escrita em forma poética
transbordando de sentimento
é capaz de transformar em lira
os versos que, escrito com suor,
sangue e dor, partindo da alma,
atravessa o corpo e com mãos
trêmulas de ânsia, busca o humano
numa escrita amargurada.
Busca que, acredita na arte da
literatura como instrumento de
transformação e de resgate da
caminhada do homem rumo a
sua humanização.
Só o amor, como expressão dos bons
sentimentos, é possível encontrar
no redemoinho da vida
uma luz onde aflore a ternura e
o afeto que carregamos dentro de
nós mesmos e que, com a palavra e
os gestos, nos reconheçamos na
finitude do homem, sua provisoriedade
de vida e sua processualidade histórica.
Tempo de Pandemia, 2020